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Arquitetos: 2M26
- Área: 48 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:soukousha (Yuya Miki)
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Fabricantes: Acor, Kyono-zaimokuya, LIXIL , Toto, kohei yatsuda, mitsuru Yokoyama
Descrição enviada pela equipe de projeto. Projetado pelo estúdio 2m26, a Casa 2m26 Kyoto é um edifício 4 em 1: uma casa, um escritório, uma marcenaria e um local para eventos. Os arquitetos, Mélanie Heresbach e Sébastien Renauld, renovaram esta antiga casa de estilo Nagaya de mais de cem anos para tranformá-la em sua casa-estúdio. Estas estruturas costumam ser construídas compondo pequenos bairros residenciais de classe média, acolhendo uma população diversificada de artesãos, comerciantes e trabalhadores, geralmente conectadas umas às outras por paredes de barro, como casas geminadas que compartilham um mesmo telhado.
A fim de preservar a história do lugar, 2m26 estudou à fundo o projeto original da antiga casa, sua estrutura e seus materiais. Abandonada por anos, as paredes e a estrutura do telhado estavam colapsando e por isso, foram os primeiros elementos a serem restaurados à seu estado original. Uma nova estrutura de madeira foi construída para ampliar a área útil da casa, permitindo a ampliação do espaço e oferecendo outras possibilidades de uso e ocupação.
Implantada em um terreno longo e estreito de apenas 60 metros quadrados, a Casa 2m26 Kyoto está localizada em uma área residencial tranquila junto a um aconchegante parque urbano. Com duas frentes nas direções norte e sul e limitada em suas laterais leste e oeste, a casa se abre em suas extremidades favorecendo a ventilação permanente dos espaços interiores e maximizando as condições de conforto durante os dias mais quentes de verão. Esta abordagem permitiu ainda a inserção de pequenos espaços abertos em contato direto com as áreas verdes dos jardins vizinhos, permitindo melhores relações entre interior e exterior.
Definida a abordagem e inspirados pela arquitetura tradicional japonesa, os arquitetos da 2m26 executaram o projeto de reforma da casa em duas etapas, aproveitando toda a extensão longitudinal do terreno para organizar o canteiro de obras. Devido a largura limitada do lote, a casa se desenvolve como um volume único, integrado e livre de estruturas secundárias. A cobertura se apoia apenas nas vigas transversais do telhado, revelado um espaço continuo e de pé direito generoso. Como um corredor aberto, a casa é uma homenagem ao tradicional doma japonês (土間), incluindo um fogão a lenha e uma nova estrutura de madeira que, ao estender-se para fora da casa, amplia a área útil e cria uma série de espaços intermediários conectando interior e exterior. Enquanto que no rés-do-chão encontram-se todas as áreas técnicas e equipamentos da casa. Já no segundo pavimento — com acesso independente através dos jardins — os moradores contam com um amplo espaço de tatame, que pode ser utilizado tanto quanto quarto quanto como escritório.
Os arquitetos queriam que a casa servisse não apenas como uma residência e escritório, mas um espaço onde eles pudessem realizar diferentes eventos, exposições ou performances artísticas. Isso significa que, todos os móveis e itens pessoais podem ser guardados e a casa transformada em um amplo espaço multiuso. Para isso, criaram um espaço de armazenamento que acompanha toda a extensão longitudinal da planta, uma estrutura que acolhe todas as instalações da casa, como o banheiro, o espaço de ateliê, a cozinha e o closet. Através da instalação com portas de correr, a área técnica e íntima pode ser fechada e separada do espaço aberto e social da casa, permitindo adaptá-lo facilmente para atender as mais diferentes necessidades. Quando assume esta função pública, a casa pode ser inteiramente aberta e integrada aos jardins, transformando-se finalmente em uma pequena travessa ou rua coberta que percorre toda a extensão do terreno.
Trabalhando em estreita colaboração com artesãos locais, o 2m26 desenvolveu uma maneira própria de construir, baseada no uso de técnicas tradicionais japonesas. Ao longo deste processo colaborativo de reforma e construção, os arquitetos adaptaram e transformaram sua própria maneira de fazer arquitetura. Praticamente todos os materiais da antiga estrutura foram reaproveitados — a madeira danificada foi utilizada como lenha para aquecer o canteiro de obras durante o inverno e boa parte da argila do telhado e das paredes removidas foi reaproveitada, peneirada e reutilizada na construção de novas estruturas. O novo volume de madeira e o mobiliário da casa foram inteiramente construídos com madeira de cedro local oriundo de uma pequena fábrica da região. O tatame do segundo pavimento foi executado sob medida por um experiente artesão de Kyoto.
Seja pela presença do tatame, dos móveis de madeira, do assoalho de cedro rosa ou o piso de pedra do térreo, a atmosfera desta antiga estrutura continua habitando este espaço, proporcionando uma sensação de pertencimento e conexão com a ancestralidade do lugar. As aberturas de vidro junto aos jardins opostos em ambas extremidades da casa permitem uma ampla e abundante iluminação dos espaços interiores a pesar da proporção alongada do volume. Através de pequenas intervenções e um profundo respeito para com a estrutura existente e seus materiais, esta pequena casa que por tanto tempo esteve abandonada e esquecida adquiriu nova vida além de um futuro brilhante e de muitas possibilidades.